sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Pelo direito ao insulto

Insulto
por Desidério Murcho

Supostamente, toda a gente defende a liberdade de expressão. Mas quando esta ideia vaga se condensa em algo de palpável vê-se que as palavras usadas já não querem dizer o que poderíamos pensar que querem dizer. “Liberdade de expressão” passa então a querer dizer algo como “cada qual pode dizer o que quiser, desde que não me insulte nem me ofenda nem ponha em causa as minhas causas mais queridas nem chame nomes feios à minha gata”. E as excepções nunca mais acabam, vivendo da vagueza do extraordinário conceito de excepção à regra, que neste caso tem o efeito delirante de acabar com a própria regra.

Não há liberdade de expressão sem liberdade para insultar. Na verdade, a liberdade para insultar é fundamental numa sociedade que se quer honesta porque o insulto é precisamente uma das mais poderosas armas conhecidas contra o auto-engano. Sem auto-engano não há insulto, e o insulto é precisamente o balde de água fria que ameaça liquidar a fantasia em que o insultado insiste em viver. Se o insultado não desconfiasse de que há uma ponta de verdade no insulto, não se teria sentido insultado. Acusar um homem de ser uma pedra da calçada disfarçada não insulta. Acusar um homem de ser maricas insulta — mas só se ele desconfiar que, no fundo, até é um bocado maricas.

Nada há talvez de mais eficiente para desmontar uma ilusão colectiva do que uma forte gargalhada geral. Uma cerimónia cheia de pompa — como um ritual religioso — só pode funcionar enquanto as pessoas não desatarem a rir perante tanto auto-engano: símios cheios de maneirismos a fingir que estão a fazer coisas importantes, quando toda a gente sabe que o realmente importante não é o que se faz nas cerimónias pomposas e nos rituais, mas na vida real — quando amamos, oferecemos, recebemos, trabalhamos, choramos e rimos, sem pompas nem rituais. Daí que qualquer humor baseado em cerimónias pomposas seja sempre insultuoso para os cerimonialistas: a gargalhada põe a nu o auto-engano.

A vida seria mais honesta e bonita se nos deixássemos destas tolices. Não é uma boa ideia viver a vida a fingir que somos o que realmente não somos, sempre desconfiados de que somos outra coisa menos nobre. Que se lixe. Se formos honestamente humanos, saberemos que temos falhas: não somos os mais corajosos, os mais ricos, os mais bonitos, os mais inteligentes, mas saberemos dar qualquer coisa de valor aos que nos rodeiam, modestamente. E saberemos rir das fátuas pretensões humanas, que tanto sofrimento têm provocado ao longo da história.

Daqui a apenas cento e cinquenta anos estaremos todos mortos, incluindo os bebés que acabaram de nascer. Não há boas razões para pensar que há uma vida depois desta; mas mesmo que haja, é uma boa ideia fazer desta uma vida boa. Acontece que isso não é possível enquanto continuarmos a sentir-nos insultados, pois só podemos sentir-nos insultados quando queremos proteger uma mentira acerca de nós mesmos. E nenhuma felicidade genuína é possível se vivermos na mentira.

Somos todos ibéricos

Espanha quer Portugal como “parceiro preferencial” quando presidir UE

Para grandes males, grandes remédios

Sempre que leio os pacifistas de serviço e o horror das crianças mortas - e as crianças, senhor, por que lhes dais tanta dor? - aqui e aqui, só para dar uns exemplos, lembro-me das palavras de George Orwell a propósito da segunda guerra mundial e da recusa inicial da ''europa'' entrar em guerra com Hitler:

“Nessa altura, o povo escolheu um líder mais próximo do seu estado de espírito, Churchill, que pelo menos era capaz de compreender que as guerras não se ganham sem combater.”

“O pacifismo é uma curiosidade psicológica e não um movimento político.”

Quero com isto dizer que o terrorismo só se vence fazendo-lhe guerra, porque não há diálogo possível com quem não sabe dialogar.

Assim, a conclusão só poderia ser esta: caladas as armas, não restam dúvidas de que, mais uma vez, os palestinianos saíram derrotados de um confronto armado que os seus dirigentes provocaram.

Nem mais.

I'm gonna fuck you in the ass
























Eu já comprei. Mas há mais à venda aqui.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Até agora, o melhor artigo que já li sobre o assunto

The Windmills of Their Minds

Por Paulo Pinto no Jugular

As notícias chegam a intervalos regulares, no noticiário da manhã, à hora do almoço, ao jantar. Já ninguém lhes liga importância, sobretudo no dia de glória de Cristiano Ronaldo. Hoje, no debate da SIC-Notícias, no espaço inicial de 1 minuto de escolha livre, Luís Filipe Meneses agarrou-se à notícia do dia. Pudera. Quem quer falar de uma guerra distante em dia de consagração do ego nacional? A guerra em Gaza passou a fait-divers bocejante, mesmo que a fasquia das baixas civis se aproxime do milhar, ainda que o conflito pareça sem solução, apesar de terem surgido provas de que Israel está a utilizar fósforo branco nas ofensivas. Uma arma cruel, como as bombas de fragmentação, como as minas pessoais.

Israel ataca brutalmente Gaza para terminar com as investidas do Hamas ao seu próprio território. O Hamas, depois da vaga de atentados suicidas, lança foguetes de forma indiscriminada para zonas residenciais, para causar o maior número possível de danos. Baixas. Mortos. Quantos mais, melhor. Israel protege o seu território de um inimigo cego e selvagem. O Hamas ataca o que considera ser um intruso, um monstro que há meio século oprime todo um povo. O terrorismo é a arma derradeira do desespero, quando se esgotaram as restantes. A repressão e o bombardeamento é o instrumento da defesa, da preservação e da sobrevivência de um país cercado.

Quando, há anos, passei pela primeira vez férias em Vila do Bispo, verifiquei que o local não podia ter sido melhor escolhido para a instalação de um parque eólico. As hélices moviam-se constantemente, dia e noite. Dois dias depois de ter chegado, imobilizaram-se. O vento deixou de soprar. A minha filha comentou imediatamente que havia calmaria porque os moinhos tinham deixado de fazer vento. E perguntou porque é que não se desligavam simplesmente, pois assim o vento parava e ela já podia ir à praia.

Esta confusão entre causa e efeito é risível numa criança de 5 anos. Noutros contextos, como a situação na Palestina, o humor é bem mais esverdeado e amargo. Há quem pense que as pás da barbárie israelita fazem soprar a violência e o ódio palestinianos. Há quem julgue que os ataques indiscriminados do Hamas são moinhos que insuflam ar na ferocidade e no ressentimento israelitas. Em boa verdade, os ventos que sopram na região são uma espécie de alíseos, pois sopram permanentemente. A diferença é que são instáveis e de direcção e sentido imprevisíveis. Massas de ar de humidade e temperaturas diferentes. Frentes frias e quentes, que varrem a região a um ritmo irregular mas constante. O pior é que, ao contrário do que ocorre em Vila do Bispo, aqui as pás não dependem totalmente do vento, antes agravam-no. Movem-se por causa dele, mas o seu movimento causa novas perturbações que, por sua vez, activam outros moinhos. Como se de um parque eólico formado por ventoinhas se tratasse. Um moto continuum perfeito.

Como um vórtice de um tornado, o olho remonta à criação do estado de Israel, à forma anómala como foi criado, num processo incompleto que deixou por cumprir o nascimento de um estado árabe vizinho. E em 1967, o ciclo monstruoso de ocupação completou-se. Os palestinianos passaram a ser estrangeiros na sua própria terra, uma pátria ocupada por um invasor impiedoso. Um povo prisioneiro. As guerras de sobrevivência são totais. E Israel, acossada, perseguida e cercada por inimigos, não brinca nem perdoa.

A população palestiniana é sujeita a humilhações quotidianas, a um cerco permanente, a um sufoco sem alívio. Os colonatos judaicos, apesar de tudo o que foi dito e apregoado, nunca foram desmantelados. O processo de paz foi congelado, aproveitando os 8 anos da era Bush. O desequilíbrio demográfico desfavorável foi atenuado com o apelo à imigração. Mas o problema palestiniano subsiste e é uma ameaça permanente. Se fosse possível isolar Gaza e a Cisjordânia por um muro de betão forrado a chumbo, e vendar os olhos do mundo, já teriam sido usadas armas nucleares. Ninguém me convence do contrário, ninguém me persuade da sinceridade das declarações humanitárias acerca da preocupação com baixas civis. Se Israel pudesse, os palestinianos teriam sido erradicados. O vento sopraria até não haver necessidade de a hélice se mexer.

Infelizmente, o parque eólico da região é formado por muitos moinhos. Quando as Nações Unidas permitiram a criação de um estado judaico, os países árabes mobilizaram-se para escorraçar os judeus até ao mar. Não era uma metáfora. Era literal. Não fosse a indomável vontade e unidade dos judeus enquanto povo e as armas checoslovacas (sim, porque não foram os americanos quem vendeu armas aos israelitas em 1948) e o mundo tinha assistido a um prolongamento do Holocausto. E isso, Israel não esqueceu nunca. Como nunca olvidou a hostilidade dos países vizinhos. Não deve ser fácil viver rodeado de inimigos. Regimes despóticos, na sua esmagadora maioria. E nas décadas seguintes, com o reconhecimento internacional da causa palestiniana e, sobretudo, após os acordos de Oslo, o caminho da paz falhou por pouco.

Morrer na praia, é a imagem que me ocorre. Yasser Arafat recusou a mais generosa oferta de paz, durante o governo de Barak, que Israel estava disposta a conceder. Recusou para não ser apelidado de traidor no mundo árabe. Porque o prestígio e a imagem eram-lhe mais valiosos do que as vidas dos seus concidadãos e o destino das gerações futuras. Enquanto isso, a OLP, depois Autoridade Palestiniana, afundava-se na corrupção e no descrédito internacional, dando margem de manobra para o surgimento de novos movimentos de resistência, menos permeáveis às brisas da paz.

Em mais de meio século, as calmarias foram poucas. Mas Israel é um facto irrevogável. E a causa palestiniana pelo direito a uma pátria também. Por isso, o que mais impressiona nos desenvolvimentos a que todos assistimos diariamente, com maior ou menor interesse ou enfado, é a incapacidade generalizada de ver ao longe, de ambas as partes. Dois povos condenados a serem vizinhos que todos os dias colocam mais um obstáculo, cavam mais uma vala, lançam mais uma armadilha no caminho comum que têm inevitavelmente que percorrer e que, um dia, terão que ser removidos, colmatados, retirados. E que já vai na terceira geração.

E há gente, muita, dotada de humor negro e de ironia amarga que continua a chamar "Terra Santa" àquele rectângulo, um espaço alegadamente sagrado para três religiões. Uma terra maldita, digo eu, amaldiçoada pelos defeitos dos homens que, até ver, sobrepõem-se com larga vantagem a quaisquer bênçãos divinas que alguma vez por lá tenham sido bafejadas. Uma piada de Deus, certamente, que permite que três religiões de raiz comum se digladiem e que dois povos tão próximos se chacinem mutuamente desta forma.

Pode parecer lamechas, ingénuo, simplório, escrever sobre estes assuntos em vez de dar prioridade a análises geopolíticas e estratégicas. É evidente que o timing da presente crise não é inocente. Os últimos dias de Bush. A crise política no Kadima. As pretensões do Irão a um papel hegemónico no Médio Oriente. Mas é ainda mais claro que o problema de fundo não irá desaparecer após o fim da ofensiva israelita em Gaza. Ou julgarão os generais que o Hamas desaparecerá? E que, se desaparecer, não surgirá outro movimento a tomar-lhe o lugar? E pensarão os senhores que cozinham mistelas explosivas caseiras para lançar nas cidades israelitas que farão vergar o colosso israelita? Que Israel capitulará ao terror? Quem é que é ingénuo, afinal?

E, no final de contas, pesadas as vantagens, os erros e as falácias de ambos os lados, considerados os cenários geoestratégicos, traçados os planos de acção e de paz nos complexos cenários políticos regionais, contadas as espingardas, as bombas e os rockets, a questão não deixa de se resumir a uma expressão bem mais elementar: as pás que giram por acção dos ventos e as tempestades que são geradas pelo movimento das hélices. Dos moinhos que existem no íntimo de cada um.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Pãezinhos sem sal...

... é o que me apetece chamar a este grupo de deputados que tanto se preocupa com a saúde dos portugueses.

Deputados socialistas apresentaram na Assembleia da República um projecto de lei que pretende reduzir o sal utilizado no pão e que as quantidades deste tempero usadas na confecção de alimentos pré-embalados estejam claramente visíveis nos rótulos.

Fazem de tudo para nos tratar da saúde...

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Israel e o jornalismo ocidental

Excelente artigo de Helena Matos no Público de ontem:

Opinião
Livro de estilo para referir Israel, por Helena Matos
08.01.2009 - 15h14 Helena Matos

No dia em que escrevo, quarta-feira, confirma-se que mais uma vez uma cadeia de televisão europeia, a France 2, transmitiu imagens falsas numa reportagem que dedicou ao ataque israelita a Gaza.

Crianças mortas e uma casa destruída ilustravam os efeitos dramáticos entre os civis palestinianos dos bombardeamentos efectuados pelo exército de Israel.

Poucas horas após a emissão da reportagem concluía-se que destas imagens apenas os cadáveres e o prédio destruído não foram ficcionados. Aquelas pessoas morreram, mas não morreram a 5 de Janeiro de 2009, como afirma o jornalista da France 2, mas sim a 23 de Setembro de 2005. Também não morreram na sequência de um ataque israelita mas sim no resultado da explosão acidental de um camião que transportava rockets do Hamas dentro do campo de refugiados de Jabalya.

Defende-se a France 2 dizendo que foi enganada pela propaganda palestiniana. Nestas coisas da comunicação, os palestinianos têm de facto as costas demasiado largas, pois aquilo a que temos assistido nos últimos anos é à participação voluntária e entusiástica de vários órgãos de comunicação ocidental na diabolização de Israel, através da divulgação de imagens e notícias sem qualquer tipo de confirmação das fontes ou até mesmo com a promoção de imagens e notícias falsas. Foi assim com o relato da morte de Muhammad al-Durrah, o menino que, em Setembro de 2000, segundo uma reportagem da mesma France 2, teria sido baleado por soldados israelitas junto ao seu pai, acabando os dois assassinados. A imagem da criança tentando proteger-se sob o cadáver do pai emocionou o mundo e legitimou a segunda intifada. Infelizmente, os mesmos jornalistas que tão rapidamente espalharam esta imagem não se deram ao trabalho de divulgar as investigações que provavam a sua manipulação. Maior silêncio ainda caiu sobre os responsáveis pela morte da família de Huda Ghaliya, a menina que o mundo inteiro viu chorando sobre os cadáveres de toda a sua família, numa praia de Gaza, em 2006. Os jornais ocidentais, com a mesma diligência com que a promoveram o novo ícone palestiniano, também o esqueceram quando se soube que a sua família não morrera vítima de um ataque israelita mas sim de armas palestinianas.

Os exemplos desta fábrica mediática de mártires para ocidente consumir levam-nos invariavelmente à constatação de que existe no ocidente uma espécie de "insurgentes de sofá". Tal como os treinadores de bancada raramente praticam qualquer desporto, também estes "insurgentes de sofá" jamais pegariam numa arma ou fariam um atentado. E não o fariam porque moralmente não seriam capazes e também porque este mundo ocidental do qual dizem tanto mal lhes tem proporcionado invejáveis padrões de vida. Israel torna-se assim no "lugar ideológico" que lhes permite acharem-se ideologicamente coerentes enquanto usufruem o que de melhor a democracia a que dantes chamavam burguesa tem para oferecer.

Claro que há algumas décadas outros povos acompanhavam os palestinianos como objecto da sua solidariedade. Eram então os vietnamitas, os cambodjanos, o então designado "povo mártir da Coreia do Sul", os angolanos, os moçambicanos, os rodesianos... enfim todos aqueles povos cujos problemas pudessem ser de alguma forma imputáveis a países que alinhassem no chamado bloco ocidental. No preciso dia em que a culpa deixou de poder ser assacada a portugueses, norte-americanos, ingleses... esses povos deixaram de gerar piedade e desapareceram os activistas. Os massacres no Ruanda, a fome no Zimbabwe, as epidemias no Congo e a corrupção em Angola não só deixaram o paradigma das notícias que causam indignação como passaram a ser apresentados sob as vestes da fatalidade histórica.

De igual modo, quando os palestinianos se matam entre si, por exemplo quando o Hamas chacinou os membros da Fatah, o facto é ignorado. Se Israel - ou seja, o país do nosso mundo - não é passível de ser responsabilizado então mal existem notícias e muito menos indignação. Donde também nunca ouvirmos falar da situação dos palestinianos no Líbano e no Egipto ou das medidas tomadas pela Jordânia para controlar os movimentos que os representam.

Estaria contudo a faltar à verdade caso se não reconhecesse que tem existido alguma evolução sobre Israel nos chamados defensores da causa palestiniana. Já admitem que o Estado de Israel vai continuar a existir mas não prescindem de uma espécie de livro de estilo para se lhe referir. Desse livro fazem parte alguns dogmas. A saber:

a) Entre os palestinianos só existem civis
Israel tem um exército e serviços secretos. Os palestinianos têm líderes espirituais ou de facção, activistas, militantes e figuras religiosas. O que de mais belicoso se concede ao seu estatuto é designá-los como combatentes. Mas nunca como militares. Não são apenas os membros do Hamas que cobardemente se misturam com a população, que usam as escolas, os hospitais, as mesquitas e as ambulâncias para fins militares. A linguagem usada por boa parte da imprensa ocidental transforma-os também em civis. Ou civis inocentes como é hábito dizer. Inversamente Israel tem militares. Ou seja, culpados, logo à partida.

b) Entre palestinianos, o estatuto de refugiado é eterno e transmissível
O que quer dizer exactamente a expressão "campo de refugiados palestinianos em Gaza"? Quer dizer que em território palestiniano, Gaza, existem palestinianos que saíram, há décadas, de localidades que fazem hoje parte de Israel (e também da Jordânia e do Egipto pois parte do território do Estado Palestiniano criado em 1948, ao mesmo tempo que o Estado de Israel, e recusado pelos países árabes, acabou por ser integrado naqueles dois países). Estes palestinianos mantêm-se com o estatuto de refugiados nos territórios palestianianos que eles mesmos administram. O que de mais equivalente com esta situação se pode conceber seria os retornados portugueses terem sido mantidos em campos, em alguns casos com direitos diferentes dos outros cidadãos da então metrópole, e ainda hoje eles, os seus filhos, netos, bisnetos e demais descendência serem todos considerados refugiados e Portugal continuar a exigir o direito do seu regresso às localidades donde fugiram nos anos 70.
Esta condição de refugiado crónico condenou os palestinianos à exclusão que nenhum país democrático aceita para os seus cidadãos. Por isso os retornados são hoje simplesmente portugueses tal como milhares de judeus que após a criação do Estado de Israel tiveram de fugir dos países árabes como Marrocos, Egipto, Iraque, Líbia, Síria, Argélia, Tunísia e Iemen são simplesmente israelitas.

c) Toda e qualquer iniciativa de defesa levada a cabo por Israel está condenada ao fracasso. Se triunfa é porque é desproporcionada
Se de todo em todo se admite que Israel poderá reagir, logo se avisa que a estratégia escolhida está errada. (A propósito, qual é o balanço do tão vilipendiado muro?) Como, apesar de tanta opinião em contrário, Israel sobreviveu e mantém uma vitalidade política invejável, então temos o problema da desproporção da resposta. A não ser para aqueles que desejam o desaparecimento de Israel, dificilmente se entrevê um cenário mais terrível do que aquele que resultaria caso a situação fosse inversa - o Hamas ou a Fatah terem mais capacidade militar do que o exército israelita - ou terem forças equivalentes. A óbvia superioridade militar de Israel impede uma escalada da violência para níveis certamente inimagináveis.

d) As informações do médico norueguês, do padre católico e da activista da ONG são absolutamente verdadeiras
Estas fontes emudecem quando os ataques ocorrem entre os palestinianos e são possuídas por uma apreciável verborreia quando Israel intervém. Mas o seu papel mais grave nem é tanto o que de falso por vezes dizem mas sobretudo o facto de pouparem os líderes palestinianos a prestarem declarações. O discurso destes últimos, sobretudo se forem os integristas do Hamas com as suas promessas de extermínio de Israel e muita retórica do martírio religioso, gera anticorpos nas sociedades ocidentais. O médico norueguês, o padre católico e a activista da ONG não só são ocidentais como falam como ocidentais para ocidentais. De cada vez que eles falam, Israel torna-se no responsável por tudo o que acontece. Quando fala o Hamas, Israel ganha senão simpatia pelo menos compreensão. Jornalista